Reconhecemos que este trabalho está abaixo de nossas pretensões, mas convêm lembrar que ele foi desenvolvido por diretores e atores principiantes, e que a falta de um teatro e de tantas outras coisas provocou um desgaste físico e mental que limitou ainda mais o resultado.

Este espetáculo foi ensaiado quase que totalmente em locais inadequados e sem condições técnicas ou psicológicas de trabalho. Agradecemos, ainda assim, aos que gentilmente nos cederam esses locais. Neste momento, já descobrimos muitas falhas nessa montagem: fica a promessa de que procuraremos ser bastante críticos em relação a ela, procurando não reincidir nos mesmos mesmos erros da próxima vez.

A quem por acaso perguntar: “Por que fazer teatro?”
Nós perguntaremos: “Por que viver de verdade e não apenas comer e dormir?”
Afinal, o que é preciso para se fazer um espetáculo teatral? “-Umas tantas pessoas no palco, um texto decorado e sincronizado e uma série de gestos ‘adequados'” – dirão algumas pessoas.
Mas, podemos chamar a isso ARTE?
A arte busca, em suas várias formas, a essência e os caminhos do homem. E a superficialidade de uma recitação acompanhada de gestos mecânicos está muito distante disso.
Mas, então, o que é necessário?
É necessário pesquisar formas e materiais, buscar permanentemente maiores significados no texto e na ação, ler, discutir, reconstruir mil vezes cada cena, e observar – sobretudo observar – a realidade que nos cerca até atingir a essência invisível ao homem comum.
O resultado será um trabalho repleto de criatividade e transformações. Mas, para isso, é necessário romper as barreiras das possibilidades individuais, e ir além, num processo de conquista e conhecimento de si mesmo e da vida.

Marteladas. Gritos abafados. Ferramentas – Olha os fios! O monstrengo vai crescendo à nossa frente. Ainda há tábuas presas irregularmente. Os encaixes definitivos começam a ser parafusados. – Segura aí! – Me passa a chave de fenda. – Como é que você pretende apertar uma porca com uma chave de fenda? Conversa-se, apesar de ser impossível de ouvir o que o outro diz. – Cuidado! Mais algumas horas e tudo está pronto. – Sabe que até ficou bonito? As sacolas estão no chão, reviradas. Há papéis sobre mesas e cadeiras. – Onde está aquela folha? Meses de preparo. – Estou com a garganta arrebentada. Ali na minha bolsa tem pastilhas. – Você está esquecendo de… – Desculpem, eu não sabia que vocês estavam se preparando. – Calma, pô! -Vamos! A música…
Você acha que nós fazemos tudo isso só para ouvir palmas no final?…
Resta-me a certeza: nada do que há aqui foi comprado em um supermercado.

Boanerges Ferreira

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